quinta-feira, 6 de junho de 2013

Mantras gospel intermináveis

Muita gente tem criticado essas músicas tocadas em igrejas ou em shows de artistas gospel que se alongam com bastante repetição de frases, onde geralmente a letra da música já não é tão grande.

Me refiro àquelas músicas que tem um ou dois versos e o coro, onde ocorrem bastante repetições.

Eu sempre vi gente reclamando desse tipo de coisa mas sempre achei que fosse meio que um exagero do pessoal , que afirma que essas músicas são mantras gospel intermináveis.

Bem, o termo mantra é usado em algumas religiões não cristãs e por isso é usado no sentido de desprestigiar. Seria interessante se não usassem esse termo para não ofender os irmãos que estão tocando. Já o termo intermináveis serve como crítica e como nós somos pessoas razoáveis e que queremos o bem comum vamos pensar um pouco sobre essa crítica afinal de contas, ela é válida ou não?

Hoje mesmo eu estava vendo um vídeo de uma artista e o show tinha três horas, e logo no começo eu pensei: caramba, quanta música! Fiquei meio desapontado quando estava nos 12 minutos e ainda estava na primeira música. Com bom humor eu pensei: assim fica fácil fazer um louvor desse tamanho, hehe. A música acabou lá pelos seus 13 minutos e meio. Nesses tempo, tivemos a música, um interlúdio onde a cantora repetiu o coro muitas vezes, a música de novo, mais um interlúdio e a música ficou um bom tempo no refrão.
O curioso é que a câmera filmou o público e eu não vi uma pessoa sequer que não estivesse no clima até os oito minutos. A partir daí o pessoal que estava no público começou a parar de cantar e lá pelos 12 minutos o pessoal estava assistindo a banda. Pelo visto era um público acostumado com esse estilo "ministrado" de louvor. Coloquei aspas no ministrado não porque critico se é ou não autêntico e sim porque esse é um estilo de tocar. Acho que vou começar a usar esse termo "louvor ministrado" com mais frequência.

Voltando ao assunto, esse estilo ministrado de louvor parece válido, porém ele abre margem para as críticas e de certa forma dão motivo para isso.

Uma música de rádio costuma durar de três a três minutos e meio. A rádio sabe que se tocar uma música maior due isso, a chance do público mudar de estação é grande, porque no momento que a música não oferecer nada mais ou demorar demais para chegar num lugar legal (dinâmica alta) o dedo da pessoa vai coçar para trocar de estação. Então as rádios tocam músicas curtas e vão variando de estilo musical para atrair todos os gostos pois se você não gostou de uma música mas não quer ficar mudando de rádio, talves da próxima música você goste, e dessa forma a rádio vai alternando estilos musicais: toca um rock, uma música pop, uma mais antiga, uma baladinha romântica, uma novidade, uma música dance e volta para o rock, toca de novo uma música pop e assim vai.
Isso acontece por que a rádio não quer de maneira nenhuma que você mude de estação.
E falando de técnica musical, a música grande deve ter muito conteúdo para conseguir atrair a atenção do público. Bandas de rock ou metal progressivo são as que costumam fazer músicas mais extensas e a estrutura das músicas deles é bem diferente desse padrão da indústria fonográfica.
Uma música geralmente tem intro-verso-coro-verso-coro-fim ou intro-verso-coro-verso-coro-ponte-coro-fim. Essas duas são as mais comuns.
Numa música progressiva e na clássica temos variações que incluem solos de instrumentos geralmente bem técnicos de três minutos, pontes entre as partes da música, interlúdios, diferentes versos, onde não apenas a letra é diferente, mas também os instrumentos tocam algo diferente e isso dá à música cara de estar entrando num ambiente diferente e não a impressão que você entrou na sala de uma casa e foi para o quarto, voltou para a sala, foi para o mesmo quarto, voltou para a sala, voltou para o quarto, entende? Nosso ouvido quer ouvir sempre um ambiente novo e dependendo da extensão da música nem fazendo um bom trabalho de dinâmica pode ajudar muito. A idéia é essa: se formos ser óbvios o tempo todo, não tem porque continuar pois já sei o que virá adiante. Para a música não morrer no meio deve existir no ouvinte a dúvida do que virá adiante.

Criar um segundo tipo de verso criará essa idéia de um outro quarto e uma ponte fará parecer um corredor. Falar isso soa meio esquisito, mas a idéia é bem essa.
Outra coisa que ajuda a música que for mais longa é o timbre dos intrumentos. A música celta por exemplo é lenta, mas dá aquele clima majestoso com instrumentos não tão comuns por aqui como gaita de foles, flauta irlandesa, o tin whistle, que é um instrumento de sopro parecido com a flauta e outros.
Esses instrumentos tem um timbre muito legal para dar clima.
Se você quiser dar um clima para a música, pense muito nos timbres, porque timbres feios não vão te ajudar.

Agora fica a minha sugestão se sua banda quiser fazer esse tipo de louvor ministrado:

- Saiba a hora de parar;
- Não pregue no meio da música. Se for pregar, mantenha o teclado tocando de fundo e não toda a banda. Veja o exemplo deste vídeo aos 30:20 (trinta minutos e vinte segundos);
- Use bons timbres;
- Não fique tempo demais numa parte da música;
-  Suba de tom no último coro, mas não faça isso em todas as músicas, pois denunciará falta de criatividade;
- Sequiser tanto "aquele" refrão, emende uma música a outra utilizando-se de pontes e , volte na primeira emendando também. Isso vai fazer a música ter ido e voltado e não dará a sensação de que você não sai do lugar. Faça isso utilizando técnica para não destruir a tonalidade das músicas. A ponte atenuará o impacto da mudança de música. Isso seria um medley de duas músicas;
- Perceba que cada público reage de uma forma. Públicos acostumados com louvor ministrado aguentam mais tempo a música sem sair do clima, e públicos menos acostumados irão dispersar;
- Descubra com sua experiência quanto tempo acostumados e desacostumados com ministração de louvor os públicos reagem bem à ministração e comece a levar isso sempre em conta. Respeite o público pois você como banda é o facilitador e não um impositor;
- Se sua banda for tecnicamente forte ficará mais fácil criar partes da música que tenham conteúdo que prenda a atenção do público. Encadeamento de acordes demasiados simples, solos simples, frases instrumentais simples, intruduções simples não costumam ajudar muito para manter o público atento. Resumindo: uma banda boa terá mais condições de manter um nível musical apropriado que colabore com a música grande;
- Se sua banda tiver muitos músicos iniciantes, faça o básico. Sua vontade de fazer algo grandioso pode forçá-los demais e gerar grande frustração em todos. Líder que é líder não puxa os outros pro buraco.

Agora, convenhamos que os tradicionais corinhos e os hinos são bem curtos até para o padrão da rádio. Então não é de se estranhar que o pessoal das antigas ou saudosistas estejam acostumados com músicas muito curtas e sem instrumentalidade. Essas músicas focavam a letra e ignoravam a habilidade do músico, que foi perdida com o tempo, e isso foi a regra que valeu por muito tempo nas igrejas.

No fim das contas, estamos sempre falando de gosto musical e não de certo e errado. Para acertar o gosto musical usamos a técnica e por isso sempre vou insistir na parte técnica, mas não apenas na qualidade musical, mas no propósito de tudo minusciosamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário